sexta-feira, 8 de março de 2019

Quando efetivamente imaginamos a nossa vida a longo prazo temos sempre duas visões: a boa e a má.
O conformismo faz parte da ideia boa. Podemos também acreditar que vamos ser felizes e conseguiremos construir os nossos sonhos e colher os resultados, ou por outro lado podemos achar que o que aí vem é insuportável e jamais vamos conseguir ultrapassar. É quando o prognóstico é mau que começamos a pensar na possibilidade de impedir tanto sofrimento através da auto sabotagem. Começamos a pensar em formas de descansar o cérebro da dor de pensar. De premir o botão "desligar". 




segunda-feira, 11 de fevereiro de 2019

Shelby


Há poucos anos entrei pela primeira vez na casa onde vivias, e tu recebeste-me com alegria. Foi amizade à primeira vista. Fizeste-me companhia em muitos momentos, fizeste-me rir e ficar com vontade de te estrafegar com mimos.
Um dia levamos-te ao parque da cidade e sei que foi dos dias mais felizes da tua vida. Fico tão contente de ter contribuido para esse dia. Andaste atrás dos patos, entraste nos lagos, cheiraste tudo e brincaste tão feliz! Sempre contente e bem disposta. E sempre perto de nós.
Às tantas decidimos pregar-te uma partida e escondemo-nos de ti. Ficaste em pánico. Mas assim que nos viste desataste a correr o mais que podias. Tiveste medo. E foi uma brincadeira cruel.
Nessa noite dormiste na minha casa. E lembro-me que não consegui pregar olho com o teu ressonar, e reclamei. Reclamei do ressonar e do pelo. Desculpa-me. Desculpa-me não ter reparado nessa altura que por te ter ali era um bocadinho mais feliz.
Hoje quando soube que foste para o céu, não consegui conter as lágrimas que significam o desgosto de saber que não te vou ter mais. Depois lembrei-me do quanto te sentias perdida quando sozinha, e por isso que vieste a correr para nos encontrar, e estás aqui bem perto: nos nossos corações.



domingo, 3 de fevereiro de 2019

tu

Tranquei a porta e não te ouvi mais. O teu sossego atormentava-me, como se a minha esperança estivesse a ser morta devagarinho por ele. Mexe-te, pedi-te em silêncio. E então nada aconteceu.
Mas a cada segundo interminável, as lágrimas escorriam pela minha cara e molhava-me as mangas da camisola. Olhava as manchas húmidas nela com atenção enquanto me ouvia chorar. Dói tanto precisar de partir e não querer. Dói que não me venhas impedir. Vem buscar-me, só mais esta vez. Diz-me que vai ficar tudo bem, que fica sempre tudo bem. 
Não! A nossa casa não é mais nossa. A nossa casa ficou vazia. A última vez que te vi foi no nosso sofá, sentado e calado. Culpado. Foi aí que senti que era o fim. A sensação mais insuportável que já vivi.  Depois doeu demais quando tudo o que era teu desapareceu. O coração saltou-me para as mãos e sentia-o a ser espremido. Partido. Doeu quando as horas passaram e não voltaste como antes tinhas voltado. Não voltaste e pediste desculpa e disseste que ias fazer o melhor. Por mim e por nós. Por ti. Não voltaste como todas as outras vezes em que nenhum de nós desistiu. 


Tu não voltaste, naquele dia tu desististe.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2019

quarta-feira, 23 de janeiro de 2019

Julen

 Há noites que custam a passar. Como se os nossos pensamentos de repente se dissolvessem como cafeína no corpo. A almofada não se adapta à cabeça, ora está calor, ora está frio, temos sede, temos fome... temos medo.
 Às vezes, já com o pressentimento que uma noite dessas está por vir, passo a não querer que a hora chegue. Quando toda a gente quer dormir eu sinto-me abandonada e entregue às trevas da insónia. Nesse momento, sinto uma imensa solidão.
 E é terrível! É terrível sentir que a nossa mente hoje não vai dar tréguas, que vamos estar uma noite inteira num espaço onde mais ninguém pode entrar e ajudar.
 E há ocasiões em que só a luz do amanhecer me conforta e me dá a serenidade para finalmente descansar.
 Não quero nem ousar fazer um paralelismo com as minhas noites em branco, porque com esse problema eu lido bem. Embora eu saiba que hoje vai ser mais uma dessas noites, em que vou pensar demais e em coisas que não são da minha vida, mas que me afetam como se fosse. Como não me afetaria? Como?

 Já não durmo umas boas horas há uns dias.  Não consigo parar de pensar na criança que caiu num poço. Não consigo parar de pensar no terror e na tragédia. Fecho os olhos e imagino a criança, que nunca vi mas tem um rosto, sozinha e frágil naquele buraco fundo do qual ninguém a conseguiu tirar.

Não consigo não pensar. E não consigo não ter raiva de mim mesma ao saber o tempo que já perdi na minha vida com porcarias, ou a desejar que o tempo passe.


Raiva de todos nós,
ingratos pela vida.





segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

"Grandes batalhas só são dadas a grandes guerreiros" Modéstia à parte

Há 3 anos este chavalo entrava assim de rompante na minha vida, sem autorização prévia. Na minha vida e na vida de mais umas outras cem raparigas. Antes de me agradar, percebi logo o que mais odiava nele.  E foram precisos meses para me dar a volta, até que realmente conseguiu. Não estou com isto a dizer-me difícil, apenas soube bem com quem estava a lidar e ele era claramente o tipo de pessoa que eu mantinha afastada da minha vida. Ele tentou explicar-me que não era como eu pensava, bla bla bla, que gostava só de mim. Toda a gente já teve uma pessoa assim na vida. Digamos que esta foi a minha vez de cair na silada, e não correu bem para o meu lado. Os meus amigos bem me avisaram. Alguns meses depois ele conseguiu finalmente convencer-me que havia ali uma luz de esperança, mas foram necessários outros tantos meses de luta minha para encontrar um rumo na nossa relação. E não foi fácil. Mas a nossa vida foi-se compondo paralelamente.  E aos trambolhões chegamos aqui.
Somos diferentes. Não somos opostos, mas somos diferentes. E a certa altura achei que seria difícil para ele perceber algum dia que me magoava à séria. Achei-o irracional muitas vezes. Em muitos momentos tive consciência de que o mais fácil para mim era dar o fora e desaparecer da vista dele, como fiz em relações anteriores por diferentes motivos. Sei também que provavelmente não lhe teria feito diferença que isso acontecesse. Fui irracional e parva, mas a verdade é que não me arrependo. Não me arrependo da energia que investi a preocupar-me com ele, mas se um dia for necessário fazer o mesmo por outro alguém, não o repetirei. Correu bem, mas poderia não ter corrido. Por outro lado, arrepender-me significaria que não valeu a pena, e valeu. Valeu um companheiro. Essa é a melhor maneira de o descrever: o meu companheiro. E às vezes dá-me cabo do juízo com os queixumes e maleitas, farto-me de me rir das cocozices e manias, faz-me até ser má pessoa. Mas quem mais poderia rir-se com a mesma vontade que ele das parvoíces que eu invento e faço? Quem mais me apoiaria nas ideias abstratas? Quem mais me perguntaria "quando nos vemos?" ou "quando te vejo?" sempre e quando fica longe de mim? Quem mais?
Foi um desgaste psicológico que hoje me compensa com o maior carinho, o maior amor e compreensão. Se um dia continuará a valer a pena? Tenho a certeza que sim.

Obrigada pelo que me ensinaste, porque esta relação foi a que mais me fez crescer. Foi contigo que aprendi, sem dúvida, o que é amar alguém à séria. Alguém que não nos é nada.

Para o que der e vier,

B.