quarta-feira, 23 de janeiro de 2019

Julen

 Há noites que custam a passar. Como se os nossos pensamentos de repente se dissolvessem como cafeína no corpo. A almofada não se adapta à cabeça, ora está calor, ora está frio, temos sede, temos fome... temos medo.
 Às vezes, já com o pressentimento que uma noite dessas está por vir, passo a não querer que a hora chegue. Quando toda a gente quer dormir eu sinto-me abandonada e entregue às trevas da insónia. Nesse momento, sinto uma imensa solidão.
 E é terrível! É terrível sentir que a nossa mente hoje não vai dar tréguas, que vamos estar uma noite inteira num espaço onde mais ninguém pode entrar e ajudar.
 E há ocasiões em que só a luz do amanhecer me conforta e me dá a serenidade para finalmente descansar.
 Não quero nem ousar fazer um paralelismo com as minhas noites em branco, porque com esse problema eu lido bem. Embora eu saiba que hoje vai ser mais uma dessas noites, em que vou pensar demais e em coisas que não são da minha vida, mas que me afetam como se fosse. Como não me afetaria? Como?

 Já não durmo umas boas horas há uns dias.  Não consigo parar de pensar na criança que caiu num poço. Não consigo parar de pensar no terror e na tragédia. Fecho os olhos e imagino a criança, que nunca vi mas tem um rosto, sozinha e frágil naquele buraco fundo do qual ninguém a conseguiu tirar.

Não consigo não pensar. E não consigo não ter raiva de mim mesma ao saber o tempo que já perdi na minha vida com porcarias, ou a desejar que o tempo passe.


Raiva de todos nós,
ingratos pela vida.





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