domingo, 3 de fevereiro de 2019

tu

Tranquei a porta e não te ouvi mais. O teu sossego atormentava-me, como se a minha esperança estivesse a ser morta devagarinho por ele. Mexe-te, pedi-te em silêncio. E então nada aconteceu.
Mas a cada segundo interminável, as lágrimas escorriam pela minha cara e molhava-me as mangas da camisola. Olhava as manchas húmidas nela com atenção enquanto me ouvia chorar. Dói tanto precisar de partir e não querer. Dói que não me venhas impedir. Vem buscar-me, só mais esta vez. Diz-me que vai ficar tudo bem, que fica sempre tudo bem. 
Não! A nossa casa não é mais nossa. A nossa casa ficou vazia. A última vez que te vi foi no nosso sofá, sentado e calado. Culpado. Foi aí que senti que era o fim. A sensação mais insuportável que já vivi.  Depois doeu demais quando tudo o que era teu desapareceu. O coração saltou-me para as mãos e sentia-o a ser espremido. Partido. Doeu quando as horas passaram e não voltaste como antes tinhas voltado. Não voltaste e pediste desculpa e disseste que ias fazer o melhor. Por mim e por nós. Por ti. Não voltaste como todas as outras vezes em que nenhum de nós desistiu. 


Tu não voltaste, naquele dia tu desististe.

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